sábado, 12 de março de 2011

Mudez de uma Benevolência

Em uma aula - do ano de 2010 - para ler a escrever algo baseado no Soneto, “Um mover de olhos, brando e piedoso” de Luíz Vaz de Camões, escrevi esse pequeno texto.


Mudez de uma Benevolência

Mesmo quando não temos a chance de reconhecer os valores das pessoas, essas não se esquecem de enxergar em outras, alguma esperança de bondade ou uma virtude escondida.
Às vezes, sem forças lançam seus olhares profundos, cheios de ternura e verdade. Transmitindo-nos calma e piedade de toda uma vida.
Com sua bondade, nos manifestam sentimentos e vêem uma nova vida, que pode surgir de forma pura e inatingível. Vêem também tanto sofrimento, tanto desengano, que de tão contínuo se torna um sofrimento pacato e doído.
Sente-se um medo por todo esse sofrimento, e a culpa já não cabe a si, e só restam os olhares piedosos para tudo que está em volta. À Circe¹, que pelas suas conseqüências, nos deparamos com um mundo cheio de injustiças e solidão, tentamos reverter o seu veneno para acabar com todo esse sofrimento real e do pensamento.
Essas pessoas estão no nosso dia-a-dia, nas nossas vidas. E quem serão elas?
Nosso egoísmo não nos deixa ver a pureza, a bondade e a piedade. E esperamos o dia em que, enxergaremos a resposta e a saída de todo esse lamento.

¹Circe era uma deusa grega considerada a rainha das feiticeiras.


Enfim, o Soneto:

Um mover de olhos, brando e piedoso

Um mover de olhos, brando e piedoso,
Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;

Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Uma pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;

Um encolhido ousar; uma brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento:

Esta foi a celeste fermosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento

Luíz Vas de Camões


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